quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O SER HUMANO E A LINGUAGEM, em uma abordagem filosófica


A linguagem sempre foi alvo de estudo dentro da Filosofia. Podemos destacar alguns momentos em que foi uma temática vigente: No Século I a.c com os Estóicos; no século terceiro da era Cristã,com Santo Agostinho ,na era moderna com Port-Royal(com preocupação mais com a gramática),Locke e Hobbes.
• Com os Estóicos uma teoria sobre uma linguagem mais elaborada foi criada. A mente, seria o lugar onde as informações são depositadas; informações estas que por sua vez são captadas através dos sentidos, de analogias concebidas através das mesmas informações e através das experiências vivenciadas pelo transcorrer da vida.
Essas informações serviriam para a elaboração de conceitos; para verbalizar pensamentos, para dar significação. No processo de significação que há dentro da linguagem; existem três elementos: O significado, o signo e a coisa. O significado é o que é expresso pelo signo que é um símbolo, como a palavra, por exemplo, já a coisa é a própria coisa ao qual se refere pelo significado através de um símbolo.
Umberto Eco (escritor da obra: O Nome da Rosa, filósofo e lingüista, mundialmente reconhecido, italiano.) diz que a relação entre a expressão de uma idéia, aquilo que ela traz consigo e a referência da coisa já havia sido tratada por Platão e Aristóteles em seus trabalhos, mas que só encontrou uma estruturação mais elaborada e bem acabada, dentro do estoicismo. Para eles a palavra deve estar relacionada com algo que lhe dê significado, que possa tornar algo abstrato, comunicável.
Outro que deu uma contribuição de grande valia, em se tratando de significação foi Santo Agostinho que em sua obra, de Magistro, ele trata do tema da linguagem. Para ele a linguagem serve para ensinar, relembrar serve para dar 'voz' aos pensamentos. Ele entende a linguagem de vários modos, a linguagem corporal, Linguagem mental, Linguagem verbal. Quando a linguagem verbal não é suficiente para explicar alguma coisa, ou fato que é abstrato, se recorre ao gestual (quando se fala em andar e a pessoa não entende o que é andar, a pessoa anda para demonstrar o que é andar, se penteia para ensinar, por exemplo, o que é se pentear, normalmente é utilizada para se educar crianças que estão em pleno desenvolvimento).A linguagem verbal ,pode ser a falada e escrita ,acompanhada da gramática .A linguagem mental é aquela que se constitui pela articulação do pensamento ,que precede a verbalização falada.
Agostinho restringe a linguagem á referência, sem o qual,o significado é vazio,a linguagem deve transmitir pensamentos sobre alguma coisa,para Agostinho o que importa é conhecer a "coisa",não as palavras.
Ele contribuiu com suas análises para o campo lingüístico. Como o objetivo do pensador Cristão é chegar ao conhecimento de Deus, algo como a linguagem humana é um instrumento limitado e precário, algo transcendental deve ser tratado mais transcendentalmente possível.
Para Santo Agostinho o conhecimento não vem das palavras que significam os objetos, mas dos próprios objetos... Elas, as palavras só são um meio...
Para Port-Royal, a língua é um sistema de signos. É um meio pelo quais as idéias se ligam aos objetos. Para traduzir os pensamentos e as operações lógicas da mente, as palavras em forma de sons articulados e distintos cumprem a função de dizer o que se passa pela mente, as operações lógicas, concepções, juízos, o raciocinar. Os signos é uma criação humana. À gramática cabe expor as essências das idéias, através dos signos verbalizados. A fala une o campo sensível, dado através do som e o campo inteligível, pois as operações mentais se dão por operações constituídas por preposições compostas de sujeito e predicado. O que concebe e o que é concebido.
Locke foi um empirista, considera a linguagem desprezada por Descartes que se preocupou mais com os processos operacionais da mente. Locke define a linguagem como aquilo que é próprio apenas do homem. A linguagem existe para expressar e transmitir os pensamentos pelos sinais através dos sons da fala, sinais de idéias contidas na mente. Pensamentos sobre idéias obtidas pela experiência dada aos sentidos que só são conhecidas a partir do momento em que são expressas por sinais.
As relações entre idéias e signos não foi a mesma em todos os povos, isso possibilitou a criação de várias línguas.
As línguas, ou melhor, as palavras ditas devem ter referências, para poderem ter significados. O significado permite a compreensão de uma idéia apreendida, Só se pode entender aquilo a que se pode fazer referências. Para Locke o significado expressa uma idéia que provém da experiência, o que não permite a mente ser apenas uma tabula rasa.
Na mesma vertente, Hobbes um nominalista, analisa a linguagem como sendo a mais útil criação humana, constada de nomes e ligações que servem para transmitir as idéias provindas das operações da mente, Ainda no século XVII, afirma quem sem a linguagem não existiria no meio humano, nem paz nem sociedade, com suas leis e toda sua estrutura. Os sinais servem para registrar, aconselhar, expressar vontades, agradar. Mas pode ser usada para cometer abusos, quando usada para mentir, ofender ou fazer metáforas ardilosas. Hobbes afirma que o que existe não são idéias ou conceitos, mas coisas nomeadas, particularmente ou universalmente. Ser verdadeira ou falsa cabe não à coisa, mas à linguagem utilizada para referi-la. Deve-se levar em consideração a maneira de se tratar uma coisa pelo uso da linguagem. Até meados do século XIX, o que preocupou os pensadores da Filosofia foi a questão do conhecimento em si, a questão metafísica do ser, e não a linguagem que a descreveria .Essa preocupação é de cunho filosófico atual .
Saussure afirma que a imagem acústica do som não é o mesmo em si, mas sua impressão no psíquico, tanto que se pode manter uma comunicação ,consigo mesmo, sem se pronunciar um som sequer, São imagens compostas de conceitos, abstratos, juntos formam os signos, seu conceito significado, a imagem produzida significante.
Segundo o lingüista Suíço, Saussure, diferente do que o Cartesianismo propôs a linguagem não é um simples conjunto de sinais, um meio de se traduzir os processos mentais. É ao contrário, através de toda sua estrutura, responsável por sintetizar a realidade (como diria Kant).
A relação de signo e realidade, segundo o próprio Saussure, não pode ser trabalhada pela lingüística, ela é papel da Filosofia, lingüística é uma ciência acerca do sistema, da estrutura da língua, das suas regras. A preocupação com a coisa em si dura até a época de Kant.
Para Kant a coisa em si não é cognoscível, o que se dá a conhecer, são seus fenômenos dados pelos meios sensíveis.
Hoje, no entanto, se pensa que sem a linguagem, sem nenhuma codificação da realidade, esta mesma, seria incompreensível. Até a mais simples intervenção do homem no mundo seria impensado. Pode-se então dizer que falar é relacionar signos, se utilizar de sentenças que possam referir os fatos do mundo que são moldados pela linguagem para uma possível compreensão.
Ao se tratar do problema das referências, Wittgeinstein, cita Santo Agostinho para dizer que as palavras servem para denominar objetos, o que para o mesmo não passa de um jogo de linguagem. Só os nomes podem denotar algo simples, Wittgeinstein afirma que a significação das palavras independe da existência da coisa designada. O significado vem das combinações com outros signos na proposição. No seu trabalho Tractatus, dizia que nomes designam elementos da realidade que permanecem e que significar é diferente de se referir ou nomear. Já nas Investigações, afirma que ter significação não depende do uso especifico da para ser referido não é necessário que exista na realidade. Mas no que tange a nomear continua na mesma, para se nomear é necessário um contato prévio com os objetos designados.
O problema em Wittgeinstein não é resolver o problema da linguagem no que tange a denotação, mas o que fazer quando o nome não possui uma referência. Tal problema resolve-se pela terapia feita ao uso normal da linguagem, a significação na linguagem é feita pelo uso da palavra na mesma.
Para o austríaco, a linguagem não é nomeação, não tem a função de se fazer dizer cada coisa no mundo. Todo problema da filosofia baseada nas analises de preposições é o de dar nomes.A linguagem não se restringe,como já foi mencionado antes,a isso,são apenas algumas faces da linguagem.Trabalha com o modelo de linguagem coloquial,cheia de enunciados ditos em situação normal de fala.
Há aqueles que como Strawson (o filosofo inglês, Peter Frederick Strawson, associado ao movimento da linguagem) não concordam com Wittgeinstein, que a linguagem é trabalhada terapeuticamente pela filosofia, que deixa tudo na mesma, concordando que Bertrand Russell, superou a falácia de ser impossível falar de algo ou alguém que não exista.
Quem o acompanhou foi Searle (um professor americano, lingüista e dedicado a filosofia da linguagem, posteriormente se dedicou a linguagem da mente),a referencia é um ato da fala ,segue Russell ao mostrar que a expressão que se define pelo sujeito lógico não é o sujeito gramatical,não implica o referente ,então o axioma( preposição ou sentença que não é demonstrada e é considerada como óbvia ou como um consenso inicial necessário para a construção ou aceitação de uma teoria)da existência não se aplica.Por esse axioma,se uma pessoa que se refere ao objeto falado é porque pode identifica-lo ao interlocutor ,se for necessário,excluindo assim,todos os outros objetos.Há comunicação apenas quando se indica fatos conhecidos do relator que mantém uma relação com o objeto referido.Para Searle os fatos não são combinação de objetos nomeados .Há muitas outras questões quanto a linguagem ,tratados por diversos pensadores que se constituiriam em muitos extensos para serem tratados neste presente trabalho .Como a pesquisa não está com o intuito de se aprofundar em todos os seus conceitos ,nos detivemos apenas em alguns dos pensadores que se mantiveram ocupados com o tema...
.

Nenhum comentário: