sábado, 30 de agosto de 2008

RELATÓRIO DO GRUPO.




Este trabalho, foi realizado na diosciplina Pratica Profissionalde pelo Professor Daniel no ano de 2008,foi pelo nosso grupo abordado o tema Linguagem. Este mesmo tema foi por nós apresentado a um RELATÓRIO DO GRUPOsituada no bairro do Boqueirão em Curitiba e contou com a presença de 7 adolescentes do grupo.
Nosso grupo foi bem recebido pelos adolescentes apesar de haver uma certa rejeição ao ouvirem o tema o qual iríamos abordar, todavia não houve maiores problemas. A apatia pelo que seria apresentado foi relatado pelo coordenador do grupo, Hugo Lemes, como normal a qualquer tema, discução ou assunto a ser tratado.
Todavia, os mesmos pareceram satisfeitos e até animados com as músicas e clipes do vídeo, um dos que mais lhes chamou atenção, foi o clipe da música Cálice de Caetano Veloso, feito no período da ditadura. Eles não conseguiam entender qual o sentido da música e porque este havia sido proibido no período ditatorial, a curiosidade levantou uma pequena discução e controversa sobe a justificativa apresentada pelo nosso grupo. Mas foi muito bom pois assim todos tiveram a oportunidade de falaram sob o que pensavam a respeito do efeito que uma música pode ter sob as pessoas e quais as conseqüências que esta pode trazer.
No demais foi muito difícil fazê-los falar, parece que tudo que o que lhes é apresentado é ao mesmo tempo aceito e rejeitado. Aceito porque eles apenas ouvem sem emitirem maiores comentários e rejeitado porque é visível a expressão que fazem com que diz “será? Tem certeza? Não sei se eu concordo”, mas quando lhes perguntamos o que acham ou o que pensam a respeito, raramente emitem mais do que um “não sei” ou “concordo com vocês”.
Quando a nossa amiga, Rosana Nascimento, falou à eles sob a técnica dos sofistas de utilizar do que fora dito pela pessoa para distorcê-la e utilizá-la em seu próprio favor. E questionou se estes nunca haviam feito a mesma coisa com seus pais ou colegas, estes pareceram se identificar com o assunto e alguns emitiram comentários e fizeram pequenos relatos, alguns com um certo tom de ironia e um ar de hilaridade.
A apresentação foi agradável, mas podemos constatar que os adolescentes são um tanto dispersos e demasiadamente sonolentos, não adianta falar por mais de 5 minutos porque estes parecem ignorar o que fora dito no inicio. Porém, caso o assunto esteja diretamente ligado a suas experiências e a forma de abordá-lo de margem para alguma discução isso os chama um pouco mais a atenção. Parece que eles têm medo de dizer o que pensam, talvez por não saberem o que pensam, por medo de represaria ou ironização do que vierem a dizer.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O SER HUMANO E A LINGUAGEM, em uma abordagem filosófica


A linguagem sempre foi alvo de estudo dentro da Filosofia. Podemos destacar alguns momentos em que foi uma temática vigente: No Século I a.c com os Estóicos; no século terceiro da era Cristã,com Santo Agostinho ,na era moderna com Port-Royal(com preocupação mais com a gramática),Locke e Hobbes.
• Com os Estóicos uma teoria sobre uma linguagem mais elaborada foi criada. A mente, seria o lugar onde as informações são depositadas; informações estas que por sua vez são captadas através dos sentidos, de analogias concebidas através das mesmas informações e através das experiências vivenciadas pelo transcorrer da vida.
Essas informações serviriam para a elaboração de conceitos; para verbalizar pensamentos, para dar significação. No processo de significação que há dentro da linguagem; existem três elementos: O significado, o signo e a coisa. O significado é o que é expresso pelo signo que é um símbolo, como a palavra, por exemplo, já a coisa é a própria coisa ao qual se refere pelo significado através de um símbolo.
Umberto Eco (escritor da obra: O Nome da Rosa, filósofo e lingüista, mundialmente reconhecido, italiano.) diz que a relação entre a expressão de uma idéia, aquilo que ela traz consigo e a referência da coisa já havia sido tratada por Platão e Aristóteles em seus trabalhos, mas que só encontrou uma estruturação mais elaborada e bem acabada, dentro do estoicismo. Para eles a palavra deve estar relacionada com algo que lhe dê significado, que possa tornar algo abstrato, comunicável.
Outro que deu uma contribuição de grande valia, em se tratando de significação foi Santo Agostinho que em sua obra, de Magistro, ele trata do tema da linguagem. Para ele a linguagem serve para ensinar, relembrar serve para dar 'voz' aos pensamentos. Ele entende a linguagem de vários modos, a linguagem corporal, Linguagem mental, Linguagem verbal. Quando a linguagem verbal não é suficiente para explicar alguma coisa, ou fato que é abstrato, se recorre ao gestual (quando se fala em andar e a pessoa não entende o que é andar, a pessoa anda para demonstrar o que é andar, se penteia para ensinar, por exemplo, o que é se pentear, normalmente é utilizada para se educar crianças que estão em pleno desenvolvimento).A linguagem verbal ,pode ser a falada e escrita ,acompanhada da gramática .A linguagem mental é aquela que se constitui pela articulação do pensamento ,que precede a verbalização falada.
Agostinho restringe a linguagem á referência, sem o qual,o significado é vazio,a linguagem deve transmitir pensamentos sobre alguma coisa,para Agostinho o que importa é conhecer a "coisa",não as palavras.
Ele contribuiu com suas análises para o campo lingüístico. Como o objetivo do pensador Cristão é chegar ao conhecimento de Deus, algo como a linguagem humana é um instrumento limitado e precário, algo transcendental deve ser tratado mais transcendentalmente possível.
Para Santo Agostinho o conhecimento não vem das palavras que significam os objetos, mas dos próprios objetos... Elas, as palavras só são um meio...
Para Port-Royal, a língua é um sistema de signos. É um meio pelo quais as idéias se ligam aos objetos. Para traduzir os pensamentos e as operações lógicas da mente, as palavras em forma de sons articulados e distintos cumprem a função de dizer o que se passa pela mente, as operações lógicas, concepções, juízos, o raciocinar. Os signos é uma criação humana. À gramática cabe expor as essências das idéias, através dos signos verbalizados. A fala une o campo sensível, dado através do som e o campo inteligível, pois as operações mentais se dão por operações constituídas por preposições compostas de sujeito e predicado. O que concebe e o que é concebido.
Locke foi um empirista, considera a linguagem desprezada por Descartes que se preocupou mais com os processos operacionais da mente. Locke define a linguagem como aquilo que é próprio apenas do homem. A linguagem existe para expressar e transmitir os pensamentos pelos sinais através dos sons da fala, sinais de idéias contidas na mente. Pensamentos sobre idéias obtidas pela experiência dada aos sentidos que só são conhecidas a partir do momento em que são expressas por sinais.
As relações entre idéias e signos não foi a mesma em todos os povos, isso possibilitou a criação de várias línguas.
As línguas, ou melhor, as palavras ditas devem ter referências, para poderem ter significados. O significado permite a compreensão de uma idéia apreendida, Só se pode entender aquilo a que se pode fazer referências. Para Locke o significado expressa uma idéia que provém da experiência, o que não permite a mente ser apenas uma tabula rasa.
Na mesma vertente, Hobbes um nominalista, analisa a linguagem como sendo a mais útil criação humana, constada de nomes e ligações que servem para transmitir as idéias provindas das operações da mente, Ainda no século XVII, afirma quem sem a linguagem não existiria no meio humano, nem paz nem sociedade, com suas leis e toda sua estrutura. Os sinais servem para registrar, aconselhar, expressar vontades, agradar. Mas pode ser usada para cometer abusos, quando usada para mentir, ofender ou fazer metáforas ardilosas. Hobbes afirma que o que existe não são idéias ou conceitos, mas coisas nomeadas, particularmente ou universalmente. Ser verdadeira ou falsa cabe não à coisa, mas à linguagem utilizada para referi-la. Deve-se levar em consideração a maneira de se tratar uma coisa pelo uso da linguagem. Até meados do século XIX, o que preocupou os pensadores da Filosofia foi a questão do conhecimento em si, a questão metafísica do ser, e não a linguagem que a descreveria .Essa preocupação é de cunho filosófico atual .
Saussure afirma que a imagem acústica do som não é o mesmo em si, mas sua impressão no psíquico, tanto que se pode manter uma comunicação ,consigo mesmo, sem se pronunciar um som sequer, São imagens compostas de conceitos, abstratos, juntos formam os signos, seu conceito significado, a imagem produzida significante.
Segundo o lingüista Suíço, Saussure, diferente do que o Cartesianismo propôs a linguagem não é um simples conjunto de sinais, um meio de se traduzir os processos mentais. É ao contrário, através de toda sua estrutura, responsável por sintetizar a realidade (como diria Kant).
A relação de signo e realidade, segundo o próprio Saussure, não pode ser trabalhada pela lingüística, ela é papel da Filosofia, lingüística é uma ciência acerca do sistema, da estrutura da língua, das suas regras. A preocupação com a coisa em si dura até a época de Kant.
Para Kant a coisa em si não é cognoscível, o que se dá a conhecer, são seus fenômenos dados pelos meios sensíveis.
Hoje, no entanto, se pensa que sem a linguagem, sem nenhuma codificação da realidade, esta mesma, seria incompreensível. Até a mais simples intervenção do homem no mundo seria impensado. Pode-se então dizer que falar é relacionar signos, se utilizar de sentenças que possam referir os fatos do mundo que são moldados pela linguagem para uma possível compreensão.
Ao se tratar do problema das referências, Wittgeinstein, cita Santo Agostinho para dizer que as palavras servem para denominar objetos, o que para o mesmo não passa de um jogo de linguagem. Só os nomes podem denotar algo simples, Wittgeinstein afirma que a significação das palavras independe da existência da coisa designada. O significado vem das combinações com outros signos na proposição. No seu trabalho Tractatus, dizia que nomes designam elementos da realidade que permanecem e que significar é diferente de se referir ou nomear. Já nas Investigações, afirma que ter significação não depende do uso especifico da para ser referido não é necessário que exista na realidade. Mas no que tange a nomear continua na mesma, para se nomear é necessário um contato prévio com os objetos designados.
O problema em Wittgeinstein não é resolver o problema da linguagem no que tange a denotação, mas o que fazer quando o nome não possui uma referência. Tal problema resolve-se pela terapia feita ao uso normal da linguagem, a significação na linguagem é feita pelo uso da palavra na mesma.
Para o austríaco, a linguagem não é nomeação, não tem a função de se fazer dizer cada coisa no mundo. Todo problema da filosofia baseada nas analises de preposições é o de dar nomes.A linguagem não se restringe,como já foi mencionado antes,a isso,são apenas algumas faces da linguagem.Trabalha com o modelo de linguagem coloquial,cheia de enunciados ditos em situação normal de fala.
Há aqueles que como Strawson (o filosofo inglês, Peter Frederick Strawson, associado ao movimento da linguagem) não concordam com Wittgeinstein, que a linguagem é trabalhada terapeuticamente pela filosofia, que deixa tudo na mesma, concordando que Bertrand Russell, superou a falácia de ser impossível falar de algo ou alguém que não exista.
Quem o acompanhou foi Searle (um professor americano, lingüista e dedicado a filosofia da linguagem, posteriormente se dedicou a linguagem da mente),a referencia é um ato da fala ,segue Russell ao mostrar que a expressão que se define pelo sujeito lógico não é o sujeito gramatical,não implica o referente ,então o axioma( preposição ou sentença que não é demonstrada e é considerada como óbvia ou como um consenso inicial necessário para a construção ou aceitação de uma teoria)da existência não se aplica.Por esse axioma,se uma pessoa que se refere ao objeto falado é porque pode identifica-lo ao interlocutor ,se for necessário,excluindo assim,todos os outros objetos.Há comunicação apenas quando se indica fatos conhecidos do relator que mantém uma relação com o objeto referido.Para Searle os fatos não são combinação de objetos nomeados .Há muitas outras questões quanto a linguagem ,tratados por diversos pensadores que se constituiriam em muitos extensos para serem tratados neste presente trabalho .Como a pesquisa não está com o intuito de se aprofundar em todos os seus conceitos ,nos detivemos apenas em alguns dos pensadores que se mantiveram ocupados com o tema...
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Edith Stein




EDITH STEIN E A FORMAÇÃO HUMANA

EDITH STEIN (12/10/1891 à 09/08/ 1942) – Grande intelectual, que teve uma trajetória de vida extraordinária. Passando do judaísmo ao agnosticismo, depois ao cristianismo e enfim á vida contemplativa, como carmelita descalça no Carmelo de Colônia, de onde saiu para um holocausto, junto aos seus compatriotas nos campos de concentração de Auschuwitz.

Edith possui uma grande personalidade, que merece ser conhecida, sendo uma mulher intelectualmente brilhante, partindo da fenomenologia de Husserl e da filosofia se santo Tomás, produziu com sua doutrina, grande admiração no mundo cultural de seu tempo, e continua despertando o interesse de muito estudiosos nos dias de hoje.

As obras de Edith Stein abordam temas de cara ter filosófico, teológicos e pedagógicos.
Vamos nos deter a algum fragmento de sue pensamento pedagógico sobre a formação do ser humano, sua grande preocupação, principalmente no que se refere à formação da mulher.
Uma de suas grandes metas foi compreender a mulher, as peculiaridades de sua formação, e a importância destas na formação dos jovens. na formação humana.

EDITH PROPÕE O SEGUINTE IDEAL AOS EDUCADORES:
Uma verdadeira obra formativa só pode ser realizada por quem é verdadeiramente formado, ou seja, um professor é também um formador, e para isso é preciso que tenha suficiente maturidade, que busque uma formação contínua para melhor desempenhar seu papel de educador.

SUJEITO DA FORMAÇÃO
Quando estuda o sujeito da formação, Edith dá grande destaque a fatores psicológicos, baseando-se principalmente nas obras de O. Lipmann. No entanto, não deixa de destacar sua própria opinião. Insiste que uma psicologia deve desembocar sempre em uma antropologia, ou seja, valorizando o homem em todas as suas dimensões.

Toda doutrina da educação de um pedagogo, depende do valor de sua concepção de ser humano.
Para Edith Stein, a palavra formação tem uma dupla definição: indica um estado e um processo.
Formação como um estado – refere-se à formação pessoal como principio regulativo de vida. Estado ao qual se tende, se almeja, ou seja, nunca acabado.
Estado possível de um homem, e sua tarefa perante essa realidade. Refere-se à questão entre ser e dever ser, questão ontológica.

Formação como processo – entende aquele desenvolvimento no qual o homem conquista uma figura e uma e uma forma, uma precisa identidade. Nesse sentido é sinônimo de educação, sendo importante esclarecer que educação se dirige a um outro, a um tu. Já a cultura, no sentido, de formação, se refere ao próprio eu.

A formação é, desta forma, um produto a educação, o ensinamento é uma ajuda à formação da pessoa.
A formação, entendida como processo, é a motivação que impulsiona juntos, educação e ensinamento.
A verdadeira didática deve dar solução ao problema de como chegar à unidade entre ensinamento e educação para se obter uma formação autentica.
Desta forma, Edith Stein apresenta a formação como um processo em que as potencialidades da alma são plasmadas numa estrutura prevista, num continuo crescimento, algo que está sempre se desenrolando.

Ex: ela compara a formação humana com a formação de uma planta:
Cada ser humano trás em si energias básicas. Disposições da própria alma que como semente precisa desenvolver-se. Não se trata de matéria inerte, sem vida, como argila na mão do artista ou pedra sujeita aos influxos da natureza. “trata-se de uma raiz vital que tem em si as energias (forma interior) para desenvolver-se numa determinada direção, justamente aquela na qual crescerá e maturará a figura perfeita, o quadro completo que brota da semente”.

O ponto principal para a formação humana são as disposições já existentes no sujeito, que jamais está acabado, que é formidável, porém livre, capaz de colaborar na própria formação como agente principal. O mestre, buscando também sua formação, é apena um mediador, no processo de formação do individuo.

“o homem é chamado a viver em seu intimo, tomando em suas mãos a direção de si mesmo, e na medida do possível agir a partir daí.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

ASPECTOS DA EXISTENCIA HUMANA: O MAL E A FELICIDADE EM SANTO AGOSTINHO


ASPECTOS DA EXISTENCIA HUMANA: O MAL E A FELICIDADE EM SANTO AGOSTINHO

Entre a Antiguidade e o Renascimento o mundo passou por um período intitulado Idade Média, considerado por alguns como o período das trevas,baseado na fé detrimento da razão, título pejorativo muito empregado para designar a rigidez e o autoritarismo da época. Para outros a Idade Média não foi assim tão nefasta:Muitos pesquisadores da Idade Média a consideram um período de ‘mil anos de crescimento’,já que entre muitos feitos desse período pode-se citar o das principais colegios ligados aos conventos e mosteiros até das primeiras universidades comandadas pela igreja e a divisão das áreas do tal como até hoje.
É nesse período também que surgem alguns dos principais filósofos, ícones de seu tempo que nos dias atuais se fazem pertinentes, devido a grande contribuição ao conhecimento acumulado historicamente.
A questão religiosa na Idade Média foi o escopo de boa parte da história. A Igreja, afetada pelo dualismo que remonta a Platão, então diz a validade no conflito entre sofrer e agir, Deus e Satanás, a salvação ou mal eterno. O mal era corpo( aos inexistente) moral quanto físico e isso leva ao sofrimento . Por isso a sociedade medieval foi marcada pelo medo do pecado, entre a apreensão do bem transcendente que vem de Deus e o mal do fazer humano.
Santo Agostinho foi um dos grandes pensadores desse período. Influenciado pela filosofia helenística,pela via de Platão e Plotino, pelo ceticismo e o estoicismo e mais tarde convertido ao cristianismo, mostrou-se muitas vezes à frente de seu tempo, apesar de seu envolvimento nas controvérsias teológicas de sua época, contribuindo muitas vezes para lhes dar forma. Seus estudos sobre o bem e o mal foram a base para posteriores teorias, contribuindo assim para uma nova forma de compriender Deus, sua criação e entrada do mal no mundo.

O PREÇO DO MAL E DA FELICIDADE.

Antes de aderir fielmente ao cristianismo, Agostinho foi muito envolvido pelos Maniqueus que “sustentavam que Deus falava diretamente à alma, através de sua Palavra, iluminando-a de tal sorte que os iluminados podiam vê-lo”. (EVANS, 1995,p.23). O autor do livro para a seita manequeista,havia uma separação irreconsiliavel entre o bem eo mal:,dado que o bemé associado à alma ,e o mal à matéria,ao corpo.


Durante muito tempo Agostinho tornou-se um ouvinte da teoria maniqueísta, já que os mesmos, na época ofereciam a ele uma resposta razoável ao problema que já o intrigava: o problema do mal. Agostinho também atribui sua união aos maniqueístas ao seu puritanismo juvenil, a sua vaidade intelectual, como fala Evans:


Vê-se de maneira muito clara a atração principal que tiveram os maniqueus sobre ele. Apelaram à sua vaidade intelectual. Sendo seita austera, e até obscurantista ofereceram-lhe um meio de mostrar que ele era diferente do tipo comum; ofereceram-lhe também um caminho que não exigia dele atribuir autoridade a quem quer que fosse: deram-lhe a satisfação de que ele tinha encontrado e sustentado a solução por sua própria perspicácia. (EVANS, pág.31, 1995).


Foi o encontro com o bispo dos maniqueus que fez Agostinho desencantar-se com a seita, sendo que o bispo mostrou-se incapaz de fornecer respostas para as indagações de Agostinho, como ele próprio explica:

Apliquei, então, energicamente as minhas faculdades críticas para ver se de alguma forma poderia, com argumentos decisivos, provar que os maniqueístas estavam errados. Se a minha inteligência pudesse conceber uma substância espiritual, imediatamente se apagariam e seriam extirpadas de minha alma todas aquelas invenções.Mas não podia. Entretanto, quanto mais meditava, avaliando e comparando as teorias acerca do mundo físico e de toda a ordem natural acessível aos sentidos do corpo, mais e mais me convenci de que numerosos filósofos sustentavam opiniões muito mais prováveis que as deles. (AGOSTINHO, pág.14, 1986).


No entanto este fato não o destituiu da busca de entender o problema do bem e do mal.Influencido pelos estóicos..
Agostinho passou a observar mais a fundo sua alma e descobriu uma grande complexidade, fato que não recebia explicação pela teoria maniquéia. Deu-se conta de que sua razão também era insuficiente para alcançar a verdade que buscava, entristeceu-se e passou a pedir ajuda divina para suas indagações, (EVANS.1995.pg.34). Assim Agostinho começa a converter-se a fé cristã.
O mal, detectado ainda em sua infância e juventude libertina e nos preceitos maniqueístas, seria explicado agora através de outros olhares, de outras experiências. Para tanto obteve ajuda de Ambrósio “o príncipe unificador” (EVANS.1995,pg.40), de sua convivência com Santo Ambrósio, coube-lhe a experiência de aprender mais da verdade que tanto buscava. Segundo Evans:

Ambrósio foi capaz de ligar o conhecimento de Agostinho dos filósofos com o ensinamento da Escritura.
...ofereceu a Agostinho um relato da criação do mundo em que se uniam filosofia e cristianismo.
...Á luz do que Ambrósio era capaz de dizer sobre estes assuntos, o cristianismo não mais pareceu a Agostinho ser credo para simplórios. Tornou-se-lhe o sistema dos sistemas... e ajudou-o na solução do problema do mal.(EVANS, 1995, pág.40/41).

Ao tornar-se cristão Agostinho não se afasta da filosofia, afinal ser filósofo é ser amante da sabedoria, é buscá-la a qualquer preço. Como cristão e filósofo Agostinho adere-se a escola platônica, pois acreditava ser a mais próxima da verdade cristã. (EVANS, 1995). Afinal:

Se a sabedoria é o próprio Deus, então o filósofo é amante de Deus, mas nem todos os filósofos são amantes da verdadeira sabedoria, e, sendo assim, devemos selecionar aqueles cuja compreensão do que buscam seja a mais próxima da verdade cristã. (EVANS, pág. 46, 1995).


Abandonando os pressupostos do materialismo filosófico, reforçado pela união ao maniqueísmo, Agostinho volta-se para o Problema do Mal, já que visão maniqueísta do mal, como uma conseqüência do estado de guerra entre o Princípio das Trevas e o Princípio de Luz não lhe satisfazia. Fosse pelos sermões de Ambrósio ou por sua própria leitura e interpretação, ouviu que “o livre-arbítrio da vontade é a razão pela qual praticamos o mal e sofremos a justa punição [imposta por Deus]” (MÄRZ, 1987, pág. 24). Contudo, ele dizia que não conseguia entender essa idéia. Agostinho perguntava-se:

Quem me criou? Não foi o meu Deus, que é não só bom, mas a suprema Bondade? Donde me veio, então, o impulso para querer o mal e não querer o bem? Seria para fornecer uma razão que justifique o fato de eu sofrer uma punição?... Se for o diabo o responsável, donde foi que ele veio? E se, por uma decisão de sua vontade perversa, se transformou de anjo bom que era em diabo, qual é a origem dessa vontade má que dele fez um diabo, quando um anjo é inteiramente obra de um Criador que é pura bondade?” (AGOSTINHO, VIII, cap. V, 1955)

Foi a leitura dos neoplatônicos que auxiliou Agostinho a ordenar seus pensamentos e idéias no que se refere à fé cristão e a visão de Deus. Contrapondo alguns princípios da fé cristã, com aspectos de seu modo de pensar, conseguiu entender melhor essa ligação, como fala Evans:

Agostinho vê a Deus como Ser (que é também o Uno). Plotino pensa de Deus como o Uno que está acima do Ser. Apesar da diferença fundamental que isso implica no cerne dos dois sistemas, Plotino ajudou Agostinho a perceber mais claramente a transcendência de Deus por sua ênfase na terrível distância do uno. (EVANS,1995, pág. 55).


A argumentação de Agostinho segue considerando que, naturalmente, o mal não provém de Deus, pois um Ser supremo, que criou o mundo do nada, que deu vida a todos os seres, que é infinitamente bom como pode ter criado o mal? O mal ocorre quando as criaturas se afastam da existência, ou seja, o mal não existe propriamente, mas é um não-ser. Tudo é verdadeiro enquanto existe e a falsidade só ocorre quando se toma por existente o não existente. Mesmo as coisas que se corrompem são boas em algumas partes, pois não haveria o que se corromper se fossem totalmente más. Porém, não são como Deus, absolutamente boas, pois se assim fosse seriam incorruptíveis. (AGOSTINHO, VII, cap. 11).
Para Agostinho apenas uma criatura dotada de mente, que utiliza a razão pode agir contra o bem e praticar o mal. Assim a fonte do mal encontra-se na vontade racional, sendo o homem livre para escolher entre o bem e o mal.

Em a Cidade de Deus, Agostinho frisa que a natureza de todos os anjos era igual quando foram criados. As propensões dos anjos bons e maus não surgiram de alguma diferença em suas naturezas, mas da diferença na direção em que usaram suas vontades. Os anjos maus diferem dos bons não por natureza, mas por culpa. (EVANS, 1995, pág. 145)



Dessa forma Agostinho explana que Deus concede a sua criatura usufruir livremente da terra. Para tanto cria o homem a sua imagem e semelhança, essa semelhança é a razão. Deus, conhecedor de todas as coisas, possui a razão infinita. Mas o homem tem sua razão corrompida, e distante da divina. O homem tem um "déficit moral", e por isso não consegue cumprir plenamente a sua natureza de animal racional. (MÄRZ, 1987).
O ponto fundamental para se entender o problema do mal se encontra no pecado original. Adão tinha sua perfeição no paraíso até comer do fruto proibido. O homem vivia no seio da natureza livre de qualquer imperfeição. Para Adão e Eva nada foi negado, nem mesmo o direito de escolher, pelo contrário foram seres abençoados por Deus. Ao deixar-se seduzir pela serpente Eva infringe o único mandamento deixado por Deus, não comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. A partir de então, ciente do que venha a ser o mal e o bem, pode escolher entre um e outro, tem sua liberdade e com isso pode afastar-se do Bem do Supremo Ser.
Para Agostinho, liberdade seria a capacidade consciente que tem o espírito de querer e procurar acima de tudo o Bem absoluto e perfeito, do modo que este se lhe apresente, e nunca preferindo nada contrário. Aquele que assim age, tem a iluminação de Deus, que do alto, abarca a todos aqueles que o invocam com um olhar. Muitos são chamados, mas poucos escolhidos.
O pecado da humanidade tem então sua causa específica: o livre-arbítrio. Pela perversão da vontade o homem escolhe a privação do ser. Este quadro só encontra redenção em Jesus Cristo, o mediador entre Deus e os homens. O cristão tem de aceitar pela fé o mistério da Trindade, que Jesus Cristo é o verbo encarnado, vindo ao mundo terreno e morto pelos homens, para redimir a humanidade. É preciso, pois, que o homem tenha fé, e acredite em algo além de si e do mundo que vê. É preciso crer em algo invisível. (NOVAES, p34). Sobre esse assunto explana Evans:

O mal mudou os homens tão radicalmente que eles se tornaram mortais. Ele arruinou os anjos que caíram. Deve ser temido porque distorce as boas criaturas de Deus, deixando soltos no mundo seres prejudicados que são ativamente malevolentes, exercendo suas vontades para o mal com terrível energia, fazendo o negativo parecer positivo pela força de seus desejos. Devemos, portanto, temer, não uma abstração, mas a terrível “treva angélica” , treva personificada, as criaturas mais brilhantes privadas da luz e visando destruição.(EVANS, 1995, pág. 150).


Agostinho diz que o homem, antes do pecado original foi feliz. Ainda há resquícios desta felicidade. A partir do momento que o homem passa a buscar Deus a felicidade poderá ser alcançada, é apenas através dele que o homem atingirá a verdadeira felicidade. Como diz Agostinho, "Tarde Vos Amei, Senhor", pois sem que ele o soubesse, Deus sempre esteve presente em sua vida, e sua desesperança só teve fim quando retornou à Deus, ou quando se lembrou de Deus. (MÄRZ, 1987)
Com este preceito a teoria agostiniana de reminiscência afasta-se da teoria platônica, sendo que na platônica, a alma contempla as formas eternas antes de nascer, em outro mundo. Já para Agostinho a contemplação da luz divina não é uma lembrança da vivência anterior da alma, mas uma irradiação presente. Deus ilumina o intelecto com sua luz, tornando-o capaz de conhecer segundo sua ordem natural. (NOVAES, 1997).
Segundo Agostinho, todos os homens desejam ser felizes, mas a verdadeira alegria só vem de Deus. A matéria, a carne e seus apelos, podem causar confusão nos homens sobre aquilo que pode fazer, mas não aquilo que realmente quer fazer. (NOVAES, 1997). “A felicidade prove de Deus porque Deus é a verdade das coisas. Felicidade e verdade são congruentes. A verdade é uma só e Deus a sua fonte. Para Agostinho: “

A Glória deve medir-se pela aprovação de Deus, e não pela aprovação dos homens, e não se pode ter em sua plenitude nesta vida. Estes dois princípios tornaram-se fundamentais para a visão de Agostinho da felicidade. Aprendeu a medi-la não por medida humana, mas divina, e a não esperar gozar plenamente dela do lado de cá do céu.
...uma mente infeliz é a mente a que falta algo...ser feliz é estar longe da “insensatez’. Ser feliz é ser sábio. Ser feliz é buscar a sabedoria. Ser feliz é buscar a verdade. Ser feliz é buscar a Cristo. (EVANS, 1995, pág.224/225).


Ou como diz em Diálogo sobre a Felicidade:


(..) E, de igual modo, mesmo que Deus nos ajude, ainda não somos sábios nem felizes. Assim, a plena saciedade das almas, a vida feliz, consiste em conhecer com perfeita piedade quem nos guia para a verdade, que verdade fruir, e através de quê nos unimos com a suprema medida. Banidas as várias superstições da vaidade, estas três coisas revelam-nos a compreensão de um só Deus e de uma só substância. (CARVALHO, S/D, pág. 87).

A felicidade na Terra encontra-se na forma correta de usar o livre-arbítrio, generosamente concedido por Deus. Fazendo bom uso dele o homem viverá em paz, sabedor de alcançar a graça divina. Para encontrar a verdade, precisa purificar sua alma, livrando-se principalmente do orgulho e da soberba, das comoções da carne, seguindo exemplo de Jesus Cristo que morreu para salvar o homem do pecado original.
Na obra, Diálogo sobre a Felicidade, Agostinho explana muito bem o que o ser humano deve fazer para alcançar a felicidade. Segundo ele, é ímpar buscá-la nas coisas permanentes, absolutas, e não nas incertezas, nas coisas que dependem das circunstâncias, do acaso. (CARVALHO, S/D). Haja vista que as coisas que vem ao acaso perdem-se com facilidade trazendo a infelicidade ao seu portador, ao contrário, aquele baseia sua felicidade em algo permanente, que não se acaba, esse sim será feliz. Assim diz Agostinho:

Ora, as coisas que dependem das circunstâncias do acaso podem perder-se, daí que quem as ama e as possui não pode, de modo nenhum, ser feliz.
...—Mas não te parece — perguntei-lhe eu —, que é feliz aquele que vive na abundância e cercado de todas essas coisas, mas impõe um limite ao seu desejo e que satisfeito com elas, as goza de forma mais completa, conveniente e agradável?
...Portanto, não duvidamos de nenhum modo que quem determina ser feliz deve adquirir o que é sempre permanente e não pode ser destruído por nenhum revés da fortuna. (CARVALHO, S/D, pág. 41/43).

Através dos estudos de Agostinho sobre a felicidade e da busca do problema do bem e do mal, confirma-se sua grandiosa fé em Deus. A conclusão de Agostinho para viver bem e alcanças a felicidade está na busca da sabedoria, mas só a encontrará quem buscá-la em Deus. Deus é o único meio de se chegar à felicidade.
Ao homem cabe viver dentro dos preceitos éticos, seguindo as determinações de Deus e principalmente descobrir em Cristo o meio para se chegar a Deus e adquirir a graça de ser feliz. (CARVALHO, S/D).
As idéias de Agostinho fundem-se com os ideais do cristianismo, sendo que para Agostinho a verdade e a felicidade só podem ser encontradas em Deus. Na visão de Agostinho Deus concedeu ao homem o livre-arbítrio para decidir voluntariamente pelo bem, não o obrigando a fazer o bem. Ao agir contrariamente ao bem o homem dá origem ao mal. Assim Deus é eximido de toda a culpa de o mal ter tomado lugar no mundo. Comprova-se pela teoria de Agostinho que Deus é um ser de infinita bondade, sendo assim seria impossível ter partido dele o mal existente.
Esse paradigma criado por Agostinho comprova também a contestação agostiniana referente as idéias maniquéias, sendo que os maniqueus pregavam o dualismo entre o bem e o mal, ou seja, Deus caracteriza-se pelo bem e o mal é personificado por Satanás. Santo Agostinho propõe uma visão contrária; só há um princípio, Deus – o Sumo Bem. Enquanto para os maniqueus o homem já nasce bom ou mau, para Agostinho ele é sempre um bem, que torna-se mau quando contraria o bem pelo uso do livre-arbítrio.
Portanto, para Agostinho não existe um ser superior, divino ou não, que faz com que o mal aconteça no mundo. O mal está nas mãos do próprio homem que, não fazendo o bem, deixa-o nascer e tomar forma.
Mesmo o livre-arbítrio sendo o responsável pela aparição do mal, Agostinho o defende como um bem supremo doado aos homens pela graça divina. Ao tornar o homem livre para agir conforme sua vontade Deus mostra mais claramente sua bondade e seu amor para com os homens. É através do ato de seguir a Deus livremente que o homem pode alcançar a verdadeira felicidade.