sexta-feira, 28 de março de 2008


A terapia de si mesmo pode ser vista nos trâmites da filosofia de formas muito distintas. Já na introdução do livro o professor e doutor em filosofia Daniel Omar Perez demonstra algumas vertentes filosóficas que se preocuparam em estabelecer conceitos em torno desse tema.
Para filósofos professores a terapia seria a criação de um modo de ser contra o mal estar de uma existência desagradável. Esse processo se daria sem o recurso de receituários prontos, mas sim se instalaria como propiciadora de condições para que o sujeito descubra o melhor caminho para si mesmo.
Entre os pitagóricos a contemplação, a meditação, a abstinência, as técnicas de purificação (escutar músicas suaves, sentir perfumes agradáveis...), o exame da consciência antes de dormir são exercícios de controle dos desejos, os quais seriam atitudes propedêuticas, indispensáveis para libertação da alma.
Entre os cínicos, a terapia viria como a objetivação de uma vida sem artifícios, sem mentiras, sem dono, doenças. A cura seria a conseqüência dessa vida.
Na seqüência são feitas ponderações sobre a escola de Hipocrates. Segundo essa vertente de pensamento existiam duas medicinas, uma para escravos (que tinha caráter reparatório, apenas para os manter aptos para o trabalho), e uma medicina para homens livres (que era preventiva). O médico deveria se comprometer com um caráter comunitário e conhecer a fundo a natureza do homem tendo como base a medicina e a filosofia, entendendo, assim, como o homem se relaciona com alimentos, bebidas e hábitos.
No epicurismo o modo de vida sugerido como forma de cura consistiria em um cuidado de si constante e não só em momentos de perigo e crise: conhecer tudo que diz respeito a nós mesmos independente do momento. Os membros dessa escola se afastam da política e dos cargos públicos porque essas atividades, segundo eles, não proporcionariam bem e eram vistas como contrárias ao filosofar, pois não favoreciam o caminho para o alcance da felicidade.
Para cristãos e judeus o tratamento se dava no encontro com Deus. Deve-se tratar corpo e psique através do desapego de prazeres, do livrar-se das desorientações que os desejos causam, das tristezas e dos medos. Esse tratamento se dá a partir da renúncia das vontades da vida mundana e a finalidade com isso seria a cura eterna.
Rousseau, nessa seqüência histórica, vem retomando o conhece-te a ti mesmo. Segundo ele, ao se conhecer o homem se vê em um estado de natureza e se cura das doenças. Uma vez que doença e a vida em sociedade para ele estão ligadas, seria a sociedade a causadora das doenças, e a forma de se safar dessas enfermidades seria conhecendo-se.
A ciência e as práticas terapêuticas devem ter um crivo, um cuidado com a filtração dos profissionais que trabalharão nessa área em nome da saúde pública, afinal não se pode brincar com o processo de formação de um modo de vida.
Outros filósofos clássicos tratam do tema da cura. Montaigne, Nietzsche, Wittgenstein, Sêneca, Kant, são exemplos de filósofos que trataram do tema e terão suas conclusões abordadas no decorrer do livro. Enfim, a cura é um tema muito valorizado e continua sendo atualmente entre filósofos, e deve ser tratado com o maior respeito, pois traduz a formação de modos de vida que com certeza refletirão no restante da sociedade.

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